Conheça melhor o pâncreas e a Insuficiência Exócrina do Pâncreas (IEP)

Você provavelmente já ouviu falar do pâncreas. Mas será que conhece bem esse órgão?

A maior parte das informações que você já deve ter lido ou ouvido sobre o pâncreas são relacionadas ao diabetes, não é mesmo? Pois hoje vamos te mostrar que o pâncreas é responsável por muitas funções e exerce um papel fundamental no processo de digestão.1,2

Para começar, é importante que você saiba que o pâncreas é uma glândula que faz parte dos sistemas digestivo e endócrino. Ele se localiza atrás do estômago, entre o abdômen e as costas, e tem em média de 15 a 25 cm. (figura 1) 

Localização do pâncreas no abdômen
(Figura 1) Localização do pâncreas
Anatomia e funções do pâncreas
(Figura 2) Anatomia e função do pâncreas

Ok, o pâncreas é uma glândula. Mas você sabe o que isso significa?

Glândulas são órgãos do corpo humano, formados por tecido epitelial (o mesmo tipo de revestimento que forma, por exemplo, a sua pele). Eles são responsáveis por secretar substâncias produzidas pelo organismo. Existem glândulas que possuem funções endócrinas, exócrinas e também as que executam ambas as funções.1

  • Glândulas endócrinas: são as responsáveis pela produção de hormônios, que são secretados diretamente na corrente sanguínea. São exemplos de glândulas endócrinas a tireoide e a hipófise.
  • Glândulas exócrinas: não estão relacionadas ao sistema circulatório, ou seja, as substâncias produzidas por elas não caem diretamente na corrente sanguínea. Elas produzem substâncias que serão levadas por meio de canais para outros órgãos ou para fora do corpo. Por exemplo, as glândulas sudoríparas (que produzem e excretam nosso suor) e as glândulas salivares (que produzem e excretam a saliva).

Porém, esses dois tipos não são os únicos. As glândulas mistas têm a capacidade de combinar as duas funções e produzir, simultaneamente, hormônios e enzimas. É aqui que queríamos chegar: o pâncreas é uma glândula mista. Ele possui duas funções principais: uma função endócrina e uma função exócrina, além de uma terceira, metabólica.1

Qual a diferença entre as funções exócrina e endócrina do pâncreas?

A função endócrina do pâncreas trabalha para a produção de diversos hormônios, como por exemplo a insulina. Na função exócrina, o pâncreas produz enzimas que auxiliam o processo da digestão dos alimentos, transformando-os em nutrientes. Essas enzimas são principalmente a lipase (que quebra as gorduras), a protease (que quebra as proteínas) e a amilase (que quebra os carboidratos).1

Diversas agressões ou doenças podem fazer com que o pâncreas diminua ou pare de funcionar da forma correta. Uma delas, bastante conhecida, é o diabetes tipo 2, que pode inclusive levar à falência da parte endócrina.1

A função exócrina do pâncreas também pode passar por um processo semelhante. Nesse caso, ele deixa de cumprir suas funções da forma adequada, trazendo diversas consequências para a saúde. 1,2   

Anatomia do pâncreas
(Figura 3) Anatomia do pâncreas3

A Insuficiência Exócrina do Pâncreas

A Insuficiência Exócrina do Pâncreas (IEP) é uma dessas condições que pode afetar o pâncreas na sua função exócrina. Diante de um quadro de insuficiência exócrina, o pâncreas não é capaz de produzir as enzimas que possibilitam a digestão dos alimentos e a absorção dos nutrientes, especialmente os gordurosos, da forma adequada. Consequentemente, o intestino não absorve as vitaminas lipossolúveis (que se dissolvem em gorduras) como A, D, E e K, por exemplo.1,2

Nos pacientes com IEP, a fermentação da comida não absorvida no trato digestivo pode causar alguns sintomas visíveis. Entre eles: 1,4,5

  • sensação de estufamento e má digestão
  • flatulência (gases)
  • distensão abdominal (barriga “inchada”)
  • cólicas
  • dor na parte mais alta do abdômen, próxima ao estômago
  • fezes soltas e malcheirosas e diarreia frequente.1,4,5

A má absorção crônica das proteínas em pacientes com insuficiência exócrina do pâncreas pode levar ainda ao inchaço das pernas, pés e tornozelos, como consequência do acúmulo de líquidos.3,4 Numa fase mais adiantada da IEP podem ocorrer fadiga extrema5 e também esteatorreia, que é a presença de gordura nas fezes, além de perda de peso sem explicação lógica. Nesse estágio, a insuficiência exócrina do pâncreas leva o paciente à desnutrição e anemia.1,5

A má absorção de vitamina D também pode levar o paciente à perda de massa óssea, o que pode até ocasionar fraturas.5

As causas e o tratamento do IEP

Embora a prevalência geral da insuficiência exócrina do pâncreas seja desconhecida, o quadro é bastante frequente em algumas populações. Destacamos os pacientes com fibrose cística, diabetes tipos I e II, pancreatite crônica, cirurgias abdominais, como a bariátrica por exemplo, ou câncer de pâncreas.1,6

Pessoas que fazem consumo diário de álcool e tabaco e indivíduos acima dos 50 anos também devem ficar atentos ao aparecimento de sintomas. Também vale prestar atenção a alterações sem motivo aparente em níveis de hemoglobina, albumina ou de vitaminas em seus exames de sangue de rotina. Essas alterações podem indicar a possibilidade de insuficiência exócrina do pâncreas. 6,7

Como você pôde perceber, os principais sintomas da IEP são pouco específicos, e podem ser facilmente confundidos com sintomas de outras doenças.4 Por isso, caso apresente sintomas gastrointestinais e digestivos como os descritos acima de forma frequente, é recomendável procurar um médico. Uma investigação mais detalhada pode ser necessária para averiguar a possibilidade de Insuficiência Exócrina do Pâncreas. 

E se você foi diagnosticado com Insuficiência Exócrina do Pâncreas, saiba que esta condição é tratável. Normalmente, a recomendação é fazer uma reposição das enzimas que seu pâncreas não consegue produzir.1,2 Seu médico é a pessoa certa para examiná-lo, fazer o diagnóstico corretamente e indicar o melhor tratamento para você. Cuide-se!

Referências bibliográficas:

  1. Galvão-Alves, J. Insuficiência Exócrina do Pâncreas – Recomendações; Colaboradores: Antônio Eiras, Júlio Maria Fonseca Chebli, Martha Pedroso, Olivia Barberi Luna. Rio de Janeiro: [s.n.], 2020, 108p.
  2. Fieker A, Philpott J, Armand M. Enzyme replacement therapy for pancreatic insufficiency: present and future. Clin Exp Gastroenterol. 2011;4:55-73
  3. OpenStax College. Anatomy & Physiology, Chapter 17.9 The Endocrine Pancreas, Figure 17.18; 2016 [17.9 The Endocrine Pancreas]. Available from: https://legacy.cnx.org/content/col11496/1.8/.
  4. Medscape. [homepage na internet]. Anand, BS. Teste rápido: apresentação e diagnóstico da insuficiência exócrina do pâncreas. 21/07/2020. [Acesso em 03/03/2021] Disponível em https://portugues.medscape.com/verartigo/6505078 
  5. Medscape. [homepage na internet]. Saber Al-Kaade. Exocrine Pancreatic Insufficiency Clinical Presentation. Publicado em 03/02/2020. [Acesso em 03/03/2021].  Disponível em https://emedicine.medscape.com/article/2121028-clinical#showall
  6. Perbtani, Y., & Forsmark, C. E. (2019). Update on the diagnosis and management of exocrine pancreatic insufficiency. F1000Research, 8, F1000 Faculty Rev-1991. https://doi.org/10.12688/f1000research.20779.1
  7. Capurso G, Traini M, Piciucchi M, Signoretti M, Arcidiacono PG. Exocrine pancreatic insufficiency: prevalence, diagnosis and management. Clin Exp Gastroenterol. 2019; 12:129-39.

Material destinado ao público em geral

Abril/2021

BRZ2184262